Francisco Rodrigues de Souza era o seu nome de batismo, porém ninguém o conhecia assim. Mas, se alguém, na década de 50, enfronhado no futebol perguntasse quem era o maior cobrador de penalidades máximas no futebol amazonense, a resposta vinha de imediato: BELÊLÊU, com o E fechado, (o Aurélio registra Beleléu – Desaparecer, sumir, ir para o Beleléu), aquele que formou com Enéas uma das maiores alas de quantas que se ouviu falar no bairro de São Raimundo.
Belêlêu e Enéas jogaram juntos durante mais de dez anos defendendo o São Raimundo Esporte Clube, onde deram seus primeiros passos. Chegaram a ser carregados pela torcida nos dias de grandes vitórias, principalmente nos amistosos com os clubes da cidade, no campo onde hoje está a sede social.
Belêlêu deixou o futebol aos 32 anos, após rápida passagem pelo Nacional. Seu clube de coração era mesmo o São Raimundo. Por ele lutou desde os infantis. Muito cedo ainda, alcançou o elenco titular. Foi por acaso que chegou lá. O dono da posição era o Valdir Normando, um cobra do time, que adoeceu num dia de jogo importante, embora amistoso. Belêlêu, na época, estava com 15 anos e foi chamado para entrar no lugar de Valdir. Entrou, jogou muito bem e nunca mais deixou a posição, sempre progredindo com seu futebol cadenciado de dribles curtos e lançamentos certos. Colocava-se no lugar exato esperando os cruzamentos que Enéas fazia da esquerda. Assim marcou muitos gols, mas sua categoria maior era na cobrança de penalidades.
Nunca havia perdido uma penalidade máxima e certa vez chegou a revelar como aprendeu a executar essa falta: “Eu era garoto e passava o dia no campo velho do São Raimundo, onde hoje está a sede junto com o Enéas, treinando chutes ao gol. Nós colocávamos um paneiro na meta, com a boca em nossa direção e apostávamos quem acertava mais vezes encaixando a bola no alvo”.
Belêlêu viveu futebol durante o amadorismo e por isso nada ganhou a não ser um título de Sócio Benemérito do seu clube, que lhe foi outorgado durante uma das gestões do presidente Ismael Benigno a quem Belêlêu o chamava de pai em reconhecimento aos favores que dele recebeu numa fase adversa de sua vida.
Durante quatro anos Belêlêu sofreu com uma cruel doença, um câncer no maxilar inferior em conseqüência, diziam, de uma extração de dente. No início do ano de 1978 o mal se agravou e ele foi internado na Santa Casa de Misericórdia, de onde saiu para o Cemitério de Santa Helena, em São Raimundo. Pouca gente no bairro soube de seu desaparecimento. Familiares e alguns amigos acompanharam o enterro. Morreu aos 52 anos de idade. Deixou uma profunda saudade entre seus amigos do dominó, seu esporte favorito depois que deixou o futebol. Morreu sem saber que seu pai Ismael Benigno, também havia morrido alguns dias antes. Sofreu no leito do hospital durante sete meses, embora sempre acreditando que um dia voltaria a exercer sua atividade no Mercado Adolpho Lisboa que estava reabrindo depois de uma grande reforma, na administração do Prefeito Jorge Teixeira.
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Author: Carlos Zamith